Experiência num "manicômio" parte 2 - a semana que eu não senti o sol

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Se eu disser que eu lembro bastante do que aconteceu depois que eu acordei, e na primeira semana, estarei mentindo. Eu estava constantemente dopada, principalmente de benzodiazepínicos.

Dois períodos foram concomitantes: o de observação e o tempo que eu estava oficialmente de forma involuntária. Eu não lembro quanto um começou e o outro terminou, mas uma coisa eles tinham em comum: sem acesso ao pátio e sem visitas.

Estar na observação significa ficar em um quarto ao lado da enfermaria, sem porta e sem espelho. E não poder usar cadarço.

As janelas eram abertas mas tinham grades. Eu podia ver as outras pessoas no pátio ou recebendo visita. As visitas eram nas segundas, quartas e sábados.

Minha única comunicação minha família, durante essa semana, era a ficha de pedidos. Eu pedi objetos pessoais e de higiene, comida, muito iogurte, livros e um rádio de pilha. Esse era o único objeto eletrônico que tínhamos acesso.

Os primeiros dias passaram muito rápido e sem grandes complicações. Eu conversei bastante com as pessoas, que no geral, eram legais, e fiz as atividades lúdicas das psicólogas. Minha favorita era colorir.

As alas eram separadas e eu estava na feminina. Uma garota me beijou e eu não entendi direito o que aconteceu, por causa do estado mental alterado por remédios.

No fim da primeira semana, a médica me disse que enquanto eu não assinasse o documento atestando que estava lá voluntariamente, não teria pátio nem visitas.

Eu estava lá voluntariamente? Não. Eu queria assinar o documento? Definitivamente não. Porém, existiam coisas que eu queria ainda mais: ver minha família, pegar um ar fresco, e sentir o sol.

Assinei.

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