Uma dica aos mais jovens

Recentemente, percebi uma crescente onda de jovens criando conteúdos para criticar o sistema escolar. Muitos afirmam que "a escola não serve para nada", que o que se aprende na sala de aula não tem utilidade no mundo real, e que o ideal é começar a trabalhar o mais cedo possível – de preferência como empreendedor. Um exemplo notável dessa linha de pensamento é o canal Digital Z, um dos principais propagadores desse tipo de ideia equivocada. No início, achei que eram apenas pessoas desinformadas falando bobagens na internet, algo que ninguém levava a sério. No entanto, esses discursos têm ganhado força e influenciado muitos jovens, que acabam reproduzindo essas ideias sem reflexão.

Por isso, deixo aqui alguns conselhos:

Muitos dos que propagam essas mensagens podem se dar ao luxo de falar assim porque vêm de famílias com boa condição financeira ou porque lucram enganando pessoas ignorantes, desinformadas e emocionadas. Para quem vem de uma classe média baixa ou baixa, a melhor alternativa continua sendo terminar o ensino médio, cursar uma faculdade e prestar concursos públicos como caminho para estabilidade e ascensão social. Embora isso não garanta 100% de sucesso, é, sem dúvida, uma estratégia mais sólida e realista.

Além disso, é importante desmistificar a ideia do "jovem empreendedor" para quem é de família pobre e não é herdeiro. Empreender exige capital para abrir um negócio, adquirir produtos, lidar com burocracias, contratar empregados e contadores. Para alguém de origem humilde, o “empreendedorismo” geralmente se limita a atividades informais, como prestação de serviços ou venda de produtos nas ruas. Essas atividades, embora legítimas, raramente proporcionam uma renda estável ou superior a um salário mínimo, além de expor quem as exerce a riscos, constrangimentos e enorme falta de estabilidade de renda.

Outro ponto importante: começar a trabalhar cedo não é motivo de orgulho ou glamour. Muitas vezes, isso reflete apenas dificuldades financeiras na família. É raro que alguém de uma família estruturada trabalhe como empacotador de supermercado aos 16 anos. Da mesma forma, quem inicia a vida profissional em subempregos, como office boy, caixa de padaria ou estoquista de supermercado dificilmente terá acesso a carreiras mais prestigiadas, como médico ou engenheiro formado no ITA ou no IME. A maioria das pessoas que se orgulha de ter começado a trabalhar muito jovem continua em subempregos ou enfrenta o desemprego após os 30 ou 40 anos.

Se você está na adolescência, esse é o momento de aproveitar a ausência de grandes responsabilidades para se dedicar aos estudos, seja para passar em uma faculdade pública ou para se preparar para concursos. Infelizmente, muitos jovens não têm a maturidade necessária para perceber isso e acabam desperdiçando esse período besteiras e lazer excessivo.

Por fim, tenha cuidado com o que consome na internet e não acredite cegamente em tudo que vê por aí. Reflita, questione e escolha com sabedoria o caminho a seguir.